Comer Rezar Amar (Eat Pray Love, 2010) conta a história de Liz (Julia Roberts) que, ao perceber que está infeliz em sua vida, decide que é preciso mudar. Primeiro, remove o obstáculo mais evidente: seu casamento, iniciando assim um doloroso processo de divórcio. Depois, a tentativa de viver uma vida normal e buscar novos relacionamentos amorosos. Ela então conhece David (James Franco), um ator mais novo que ela. No entanto, a aparente felicidade inicial logo dá lugar ao mesmo vazio existencial que ela antes sentia.
Liz então embarca em uma viagem de um ano pela Itália, Índia e Indonésia. Na Itália ela se dedica a um período de indulgência, apreciando o melhor da culinária local e permitindo-se engordar alguns quilos, vivendo apenas para buscar o "prazer de não fazer nada", pregado pelos italianos. Neste trecho fica a evidente a diferença que faz o orçamento de 60 milhões de dólares, com caprichados takes aéreos de Roma.
Na Índia, Liz pretende dedicar-se à meditação e à busca do equilíbrio espiritual. Em sua estadia em um ashram hindu, ela confronta a dor da qual pensava já estar curada para, finalmente, perdoar-se. Depois, ruma para Bali, ilha que ela já havia visitado (na visita anterior, um xamã havia previsto que ela retornaria para que ele pudesse ensinar-lhe todos os seus conhecimentos).
No período em Bali, Liz redescobre o amor em Felipe, personagem brasileiro vivido pelo espanhol Javier Bardem. Ao ouvir Bardem falando português e a trilha de bossa nova, sentimos aquela vergonha alheia de ver nossa cultura representada nas telas por estrangeiros - provavelmente sentida também pelos italianos, indianos e indonésios ao assistir esse filme. No entanto, essa representação não é caricata e descuidada, ficando nítido que a produção empenhou-se na fonética dos sotaques. Não chegou-se à perfeição, mas o trabalho foi bem executado.
Para aqueles que amam ou sonham viajar, a fotografia de Comer Rezar Amar estimula aquela vontade de embarcar no próximo avião. No entanto, apesar do filme ter realização técnica esmerada, falta ousadia à atuação de Julia Roberts, que nunca sai do território seguro já explorado em seus filmes anteriores. A autora do romance best-seller que originou este filme, Elizabeth Gilbert, que trilhou a jornada relatada, é uma mulher real - não a figura de estrela idealizada que Roberts parece incapaz de abandonar. O demérito dessa falta de contrastes é também da direção do diretor Ryan Murphy, que não explora a profundidade da tristeza do início a fim de evidenciar a transformação de Liz ao final.
Conheça também o livro que deu origem ao filme
Ainda irei ler o livro, mas o filme vale muito a pena assistir
Xo.Xo Júnior Moreira